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Agroecologia urbana e a viabilização de uma alimentação mais saudável para pessoas idosas na periferia de Olinda

Por Serta
16/10/2024 | 11h:03

No bairro de Peixinhos, em Olinda, cidade irmã da capital pernambucana, estão as comunidades de Cabo Gato e Condor, onde parte da população vive às margens do Rio Beberibe, em casas de palafitas. As famílias que não estão em palafitas, também convivem com as precariedades das habitações e do saneamento básico (esgoto a céu aberto corre ao lado das casas de alvenaria). No período de chuvas, a preocupação com enchentes passa a dominar essas comunidades.

São em lugares como esses, com ineficiência do poder público em garantir o  direito à dignidade, habitação e saúde às pessoas, que a resiliência se manifesta em mobilização e organização popular. Assim também, em 1997, nasce o Grupo de Saúde Condor e Cabo Gato, como resultado da luta por direitos básicos para o acesso à saúde dessas pessoas. E foram nas plantas medicinais, nos saberes tradicionais e na coletividade que o grupo ancorou sua organização, e hoje faz parte da Associação de Manipuladores de Remédios Fitoterápicos Tradicionais Semi-Artesanais (AMARFITSA/PE).

Nesse cenário de resiliência e vulnerabilização, o SERTA chega às comunidades de Condor e Cabo Gato com o projeto Florescer na Boa Idade. Com o objetivo de atender pessoas idosas na promoção de ações agroecológicas e pedagógicas, envolvendo educação cidadã, convivência comunitária, acessibilidade e implantação de quintais ecoprodutivos e cisternas, o projeto chega para contribuir com as iniciativas de luta pelo cuidado auto-organizado e  incentiva a agroecologia urbana nessas zonas periféricas de Olinda.

Falar sobre agroecologia urbana, é falar também sobre acesso a alimentos saudáveis na cidade. Diversos artigos científicos foram publicados nos últimos anos sobre o comércio de alimentos in natura nas periferias e sobre a mudança dos hábitos alimentares no Brasil, perpassando pelo aumento do consumo de ultraprocessados por toda a população. Se em algumas décadas a comida dos brasileiros era o arroz e feijão, hoje, com o barateamento e marketing “da praticidade”, os produtos alimentícios ultraprocessados estão dominando também as mesas da população mais pobre

No Cabo Gato e Condor, a implantação de quintais produtivos com pequenas plantações de hortaliças, verduras e ervas medicinais, vem mudando a relação com o alimento de pessoas idosas e suas famílias. Para Dona Miriam Alves dos Santos, 74 anos, moradora do Condor, o cuidado com a plantação dos alfaces e coentros no seu quintal, além de promover a reunião da família — sua nora e os dois netos  —, também a coloca em contato com a terra, sol, água e seu próprio alimento. É o momento de sair de casa, já que é cadeirante e o acesso à área externa da casa é difícil, e assim “ajeitar os vasos, tirar as folhas secas e catucar a terra”, diz Dona Miriam.

Nos primeiros meses do projeto Florescer na Boa Idade, uma importante parceria foi firmada: estudantes e profissionais do curso de medicina da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), atuantes na Unidade de Saúde da Família local, agora integram as ações educativas do projeto. “A gente apresentou o projeto, eles acolheram a ideia e a gente vai, durante o projeto, fazer um trabalho inclusivo para que a gente atenda melhor essa população de uma forma mais eficiente”, afirma Cláudia Muniz, coordenadora do projeto.

Na Unidade de Saúde da Família Cohab Peixinhos, aconteceu a primeira oficina dessa parceria. Estudantes e a professora Dra. Paula Magalhães conversaram sobre alimentação com as pessoas idosas presentes. A utilização de temperos naturais, a diminuição de ultraprocessados e processados como açúcar e sal, a diversificação de cores no prato e o consumo dos alimentos produzidos nos quintais foram assuntos trazidos à oficina. Vandália Maria Santana, 64 anos, conta que no seu quintal foi plantado hortelã, coentro, alface roxa, alface verde, manjericão e couve: “Já comi coentro, já comi alface, fiz salada”, diz animada.

Embora os alimentos provenientes dos quintais familiares ainda não sejam suficientes para garantir a subsistência completa, a relação com a alimentação é enriquecida por diálogos tanto coletivos quanto individuais, realizados durante as visitas da equipe às residências dos idosos. Nessas visitas, discute-se os hábitos alimentares com o objetivo de realizar um diagnóstico e, assim, tomar decisões conjuntas sobre quais alimentos serão mais bem aproveitados na mesa da família. Além disso, há um processo de conscientização sobre os malefícios dos produtos industrializados e os benefícios dos fitoterápicos, promovendo o fortalecimento da auto-organização com um novo foco: a agroecologia urbana.

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